Uma estatueta de argila recentemente descoberta no norte de Israel atrasa em milhares de anos a linha do tempo para narrativas complexas e expressão artística. O artefato de aproximadamente 12 mil anos retrata um encontro entre um humano e um animal – um ganso, especificamente – tornando-o a representação mais antiga conhecida de tal interação. Esta descoberta desafia suposições anteriores sobre quando e onde a arte simbólica surgiu pela primeira vez.
A Cultura Natufiana e a Arte Antiga
A estatueta foi descoberta no sítio natufiano de Nahal Ein Gev II. Os natufianos, que viveram entre 15.000 e 11.500 anos atrás, eram uma cultura única. Ao contrário da maioria das sociedades do seu tempo, viviam durante todo o ano em aldeias colonizadas, caçando e recolhendo, em vez de dependerem da agricultura. Esta descoberta sugere que o pensamento simbólico complexo não era apenas um produto das comunidades agrícolas, como se acreditava anteriormente.
Uma cena mitológica em barro
A estatueta em si é pequena o suficiente para caber na palma da mão. Mostra uma mulher com um ganso empoleirado nas costas, as asas circundando a parte superior do corpo. A cabeça do pássaro repousa contra seu rosto, criando uma imagem impressionante. Os investigadores acreditam que isto representa uma cena mitológica, possivelmente representando um acasalamento entre um humano e um animal. Tais crenças e representações eram comuns em comunidades agrícolas posteriores e em sociedades de caçadores-coletores, mas esta estatueta demonstra que elas se originaram muito antes.
Implicações para a compreensão da arte antiga
Esta descoberta sugere que o impulso para criar representações simbólicas do mundo – e para explorar ligações espirituais entre humanos e animais – é muito mais antigo do que se pensava anteriormente. O uso da argila como meio pode ter facilitado esta nova forma de expressão, permitindo representações mais detalhadas e matizadas.
Vendo a estatueta: uma perspectiva deliberada
A estatueta provavelmente deveria ser vista de cima, para que a luz e as sombras criassem um efeito tridimensional. Isso sugere que o artista considerou cuidadosamente como a peça seria percebida, acrescentando outra camada de intencionalidade à obra.
Uso ritual: uma possível interpretação
Embora o propósito exato da estatueta permaneça desconhecido, alguns pesquisadores especulam que ela pode ter sido usada em rituais. A descoberta do túmulo de um xamã natufiano perto do local dá credibilidade a esta ideia. A estatueta poderia ter sido usada para induzir visões ou conduzir cerimônias, confundindo ainda mais os limites entre os mundos humano e animal.
Esta descoberta desafia suposições de longa data sobre as origens da arte e da narrativa. Ao atrasar a linha do tempo da expressão simbólica, oferece uma nova perspectiva sobre o desenvolvimento cognitivo e cultural dos primeiros humanos. A estatueta serve como um lembrete tangível de que o impulso humano para criar significado através da arte está profundamente enraizado no nosso passado.

























